Em primeiro lugar tenho que confessar
que estou sofrendo de uma síndrome: não suporto ver lixo esparramado no lugar
errado (coisa de eco-chata! talvez) Quando vejo já começo a formigar, fumigar e
pensar em como coloca-lo em seu devido lugar, (algumas vezes) começo a catar e
ajuntar, mas, engana–se quem disser que eu não fico com vergonha ou constrangimentos,
eles são muitos; às vezes, imagino que a força que faço pra sair da falta de
movimento e ação é como a de Hercules pra limpar os estábulos do rei. Tenho que
vencer as vozes do deixa disso, para com isto, e se passar um gatinho o quê ele
vai pensar? Já vem a moralista querendo dar exemplo...
Como deixar que famílias inteiras no
#domingonoparque sentem-se ao redor de lixos? Como se o “normal” o correto
fosse assim sujo e não houvesse outra paisagem possível. (A maldita
transparência do mal!)
Vou lá e mudo a cena. Digo: com licença, bom dia! Vocês merecem passar
o dia de domingo num ambiente mais agradável e limpo. E começo a catar os lixos
ao derredor. Quando termino pergunto a
eles: vocês notaram a diferença? Gostaram?
Digo que temos mecanismos internos que
são disparados quando estamos em um ambiente sujo e outros que são
desencadeados em ambientes limpos. O ambiente sujo me autoriza a sujar mais e o
limpo me desautoriza a sujar, ou seja, faz com que me sinta inibida ao ato de
sujar. Portanto um pequeno papel de balinha no chão pode ser o gatilho interno
que me autoriza a sujar também.
Ansiamos por fazer parte por sentirmos aceitos
e pertencentes, assim, surge à pressa de nos com-formarmos ao ambiente que
estamos nos tornando iguais/semelhantes a ele. Se outros sujam eu também posso
sujar. A boa é que se outros limpam eu também posso limpar!
Sentir socialmente inadequado e excluído
é um grande problema que enfrentamos no convívio social. Inadequado é quando
não me sinto ajustado ao contexto, mas também não sei em qual ambiente eu
gostaria de estar. Excluído é quando “eu não faço falta”. É uma dor imensa
sentir assim, dá medo!
Sentir isto faz com que eu não queira
com-tato e um muro interno é construído instantaneamente para me proteger de
aproximações, relacionamentos e contatos tanto comigo mesma como com o que me
cerca.
No outro final de semana participei da
Feira do Empreendedor (((gostei))) e como moro aqui no centro fui caminhando
para o evento e vi que no Ginásio Rio Vermelho também havia muita gente reunida
para um encontro religioso.
A síndrome do lixo voltou no final da Feira
e eu quis saber qual o impacto ambiental da Feira, quanto de lixo produziu? Fiquei
observando os lixos nas intermediações dos dois eventos e quando passei pelo
Ginásio vi um tanto de lixo ao redor que pensei: como pode ter a presença de
Deus lá dentro e aqui fora do ginásio esta sujeira? Como pode pessoas
esclarecidas e educadas jogarem lixo nas ruas?
Fico impressionada com a sujeira que
fica nestes eventos religiosos e nenhuma pregação dizendo sobre Ser responsável
e limpar de dentro pra fora de fora pra dentro? Quanto lixo; como se “o normal”
fosse o sujar e não o cuidar. De novo a Transparência do mal. O mal não pode
ser transparente, ele precisa de cor, cheiro, substancia, para eu ter o poder
real de escolha. Se ele fica transparente como vou saber a escolha que fiz?
Precisamos com urgência e firmeza nos
apropriar do que é nosso! A cidade é nossa; um lixo na rua é sim de minha e de sua
responsabilidade. Parar de dar todo poder e responsabilidade aos governantes.
Quem tem o poder somos nós cidadãos
quando nos apropriamos do que é nosso. Isto significa amadurecimento, empoderamento
do Ser Responsável. Chega de infantilismo; de delegar autoridade e
responsabilidade para o outro; nós temos o dever de cuidar e zelar do que é nosso,
da nossa rua, nosso bairro, nossa cidade, nosso Estado, nosso País, nossas águas,
nossa Terra.
É hora de levantarmos do berço esplêndido
e começarmos a trabalhar.
Rita de Cássia Ramos Carneiro - Diretora.