quarta-feira, 26 de junho de 2013

Ganhei Coragem - Rubem Alves

Ganhei coragem
RUBEM ALVES 

"Mesmo o mais corajoso entre nós só raramente tem coragem para aquilo que ele realmente conhece", observou Nietzsche. É o meu caso. Muitos pensamentos meus, eu guardei em segredo. Por medo. Albert Camus, leitor de Nietzsche, acrescentou um detalhe acerca da hora em que a coragem chega: "Só tardiamente ganhamos a coragem de assumir aquilo que sabemos". Tardiamente. Na velhice. Como estou velho, ganhei coragem.
Vou dizer aquilo sobre o que me calei: "O povo unido jamais será vencido", é disso que eu tenho medo.
Em tempos passados invocava-se o nome de Deus como fundamento da ordem política. Mas Deus foi exilado e o "povo" tomou o seu lugar: a democracia é o governo do povo... Não sei se foi bom negócio; o fato é que a vontade do povo, além de não ser confiável, é de uma imensa mediocridade. Basta ver os programas de TV que o povo prefere.
A Teologia da Libertação sacralizou o povo como instrumento de libertação histórica. Nada mais distante dos textos bíblicos. Na Bíblia, o povo e Deus andam sempre em direções opostas. Bastou que Moisés, líder, se distraísse na montanha para que o povo, na planície, se entregasse à adoração de um bezerro de ouro. Voltando das alturas, Moisés ficou tão furioso que quebrou as tábuas com os Dez Mandamentos.
E a história do profeta Oséias, homem apaixonado! Seu coração se derretia ao contemplar o rosto da mulher que amava! Mas ela tinha outras idéias. Amava a prostituição. Pulava de amante a amante enquanto o amor de Oséias pulava de perdão a perdão. Até que ela o abandonou... Passado muito tempo, Oséias perambulava solitário pelo mercado de escravos... E o que foi que viu? Viu a sua amada sendo vendida como escrava. Oséias não teve dúvidas. Comprou-a e disse: "Agora você será minha para sempre...". Pois o profeta transformou a sua desdita amorosa numa parábola do amor de Deus.
Deus era o amante apaixonado. O povo era a prostituta. Ele amava a prostituta, mas sabia que ela não era confiável. O povo preferia os falsos profetas aos verdadeiros, porque os falsos profetas lhe contavam mentiras. As mentiras são doces; a verdade é amarga.
Os políticos romanos sabiam que o povo se enrola com pão e circo. No tempo dos romanos, o circo eram os cristãos sendo devorados pelos leões. E como o povo gostava de ver o sangue e ouvir os gritos! As coisas mudaram. Os cristãos, de comida para os leões, se transformaram em donos do circo.
O circo cristão era diferente: judeus, bruxas e hereges sendo queimados em praças públicas. As praças ficavam apinhadas com o povo em festa, se alegrando com o cheiro de churrasco e os gritos. Reinhold Niebuhr, teólogo moral protestante, no seu livro "O Homem Moral e a Sociedade Imoral" observa que os indivíduos, isolados, têm consciência. São seres morais. Sentem-se "responsáveis" por aquilo que fazem. Mas, quando passam a pertencer a um grupo, a razão é silenciada pelas emoções coletivas.

Indivíduos são seres morais. Mas o povo não é moral. O povo é uma prostituta que se vende a preço baixo


Indivíduos que, isoladamente, são incapazes de fazer mal a uma borboleta, se incorporados a um grupo tornam-se capazes dos atos mais cruéis. Participam de linchamentos, são capazes de pôr fogo num índio adormecido e de jogar uma bomba no meio da torcida do time rival. Indivíduos são seres morais. Mas o povo não é moral. O povo é uma prostituta que se vende a preço baixo.
Seria maravilhoso se o povo agisse de forma racional, segundo a verdade e segundo os interesses da coletividade. É sobre esse pressuposto que se constrói o ideal da democracia.
Mas uma das características do povo é a facilidade com que ele é enganado. O povo é movido pelo poder das imagens, e não pelo poder da razão. Quem decide as eleições e a democracia são os produtores de imagens. Os votos, nas eleições, dizem quem é o artista que produz as imagens mais sedutoras. O povo não pensa. Somente os indivíduos pensam. Mas o povo detesta os indivíduos que se recusam a ser assimilados à coletividade. Uma coisa é o ideal democrático, que eu amo. Outra coisa são as práticas de engano pelas quais o povo é seduzido. O povo é a massa de manobra sobre a qual os espertos trabalham.
Nem Freud, nem Nietzsche e nem Jesus Cristo confiavam no povo. Jesus foi crucificado pelo voto popular, que elegeu Barrabás. Durante a revolução cultural, na China de Mao-Tse-Tung, o povo queimava violinos em nome da verdade proletária. Não sei que outras coisas o povo é capaz de queimar.
O nazismo era um movimento popular. O povo alemão amava o Führer.
O povo, unido, jamais será vencido!
Tenho vários gostos que não são populares. Alguns já me acusaram de gostos aristocráticos... Mas, que posso fazer? Gosto de Bach, de Brahms, de Fernando Pessoa, de Nietzsche, de Saramago, de silêncio; não gosto de churrasco, não gosto de rock, não gosto de música sertaneja, não gosto de futebol. Tenho medo de que, num eventual triunfo do gosto do povo, eu venha a ser obrigado a queimar os meus gostos e a engolir sapos e a brincar de "boca-de-forno", à semelhança do que aconteceu na China.
De vez em quando, raramente, o povo fica bonito. Mas, para que esse acontecimento raro aconteça, é preciso que um poeta entoe uma canção e o povo escute: "Caminhando e cantando e seguindo a canção...". Isso é tarefa para os artistas e educadores. O povo que amo não é uma realidade, é uma esperança.



terça-feira, 18 de junho de 2013

Somos Rede Social


O que o inconsciente coletivo esta manifestando? Mudar é necessário e desejado! Uma insatisfação crescente, um sentimento de inabilidade, sensação de inapropriado e insatisfeito têm invadido nossos pensamentos e emoções. Algo não vai bem, mas, o que necessariamente? A pressão esta aumentando e necessitamos de limpeza, purgações, catarses.
Catarses coletivas que querem mudanças, mas, não sabemos dizer ao certo que mudança é esta que queremos indo as ruas e revindicando. São os R$0,20 centavos de aumento na passagem do ônibus que não aceitamos!? É mais que isto... Abruptamente nos levantamos das cadeiras em frente ao computador e vamos às ruas; tem wi fi, dá pra ir sim! 
A primeira mudança significativa é a não existência de lideranças fortes presentes. Não estamos seguindo ninguém, estamos escolhendo ir. Aliais, que “raiva” dos atuais líderes. Que raiva destes que querem mandar em nós. Este sentimento de rancor e raiva em relação à figura dos líderes é crescente. (Precisamos de espelhos para ver nossa imagem.)
 As Redes Sociais possibilitaram aproximações e com ela a desmistificação da figura dos líderes. Somos Redes Sociais. Não temos partidos políticos e não representamos um... “Fala de quem não entendeu nada: leve-me ao seu líder.”
 Façam suas escolhas!! Podemos seguir muitos...
Escolher e Ser responsável pelas escolhas. Aí que difícil isto... É mais fácil pedir impeachment da Dilma, do Marconi, do Cabral e muitos outros do que encarar a verdade sobre quem é que deu poder a eles, nós não queremos ver. Queremos construir relacionamentos saudáveis, mas, não pagar o preço por esta conquista.
 A catarse é necessária pra limpar, mas depois há de vir a “consciência” das escolhas erradas e da necessidade de fazer diferente. A raiva é de nós mesmos; ter delegado poder e força ao outro e ficar tanto tempo adormecidos em berços esplêndidos. “Quem não luta pelos seus direitos não é digno deles.” Rui Barbosa.
 A mudança das estruturas verticais para horizontais é Real. A verdadeira mudança é de dentro pra fora pra depois vir a de fora pra dentro. “Respons-habilidade é responder aos desafios com habilidade e arte” Carlos Maltz (@carlosmaltz).
A principal mudança que se faz necessária é parar de procurar “bode expiatório” e sim saber que a “culpa” (chega de culpa, vamos falar em responsabilidades) não é dos políticos e sim do povo Brasileiro que na hora de votar barganha seu voto por migalhas ou interesses próprios. Culpar o outro é a melhor estratégia de quem não quer se responsabilizar pela sua realidade.
Responder aos desafios com habilidade e arte é Ser-Humano. Estamos manifestando, pois descobrimos que temos poder de mudar a nós mesmos e de Ser a mudança que necessitamos. (Espero que sim; também tenho este defeito de ser otimista!!))
É a caminhada rumo a Era de Aquários, deixando de ser peixe e nos tornando oceano. Que bom saber do poder em nós; somos a rede, o Espírito Santo.
Estes dia, num comentário sobre novos comportamentos na Rede, falamos sobre o Poder do Mito. Indagamos sobre o mito do herói; será que estamos preparados, amadurecidos, para não precisarmos do herói para seguir? Estamos  aptos a Educação do Empoderamento? Desejamos realmente incluir o que fala e é diferente de nós?
São pistas para entendermos o Poder da Rede Social com as novas perspectivas e possibilidades de Inclusão...
“E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.” Atos 2.4.

Rita de Cássia Ramos Carneiro – psicóloga